O uso das chamadas tecnologias verdes como alternativa à crise energética foi o tema da audiência pública realizada nesta segunda-feira (25), pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara Municipal do Rio. Na ocasião, foram apresentadas propostas para produção de energia em diferentes matrizes que ajudem a reduzir o consumo da energia das hidrelétricas. Presidente da comissão, o vereador Pedro Duarte (Novo) anunciou que está elaborando um projeto de lei para a criação do chamado IPTU Verde.
Segundo Pedro Duarte, a proposta é incentivar a adoção de tecnologias sustentáveis tanto para novos edifícios quanto na adequação dos prédios existentes na cidade, o chamado retrofit. Segundo o vereador, é preciso pensar na descentralização da energia elétrica que é produzida e consumida no país. “O incentivo ao IPTU Verde muitas vezes se mistura a uma geração de energia descentralizada, sobretudo através da energia solar, o que pode, no médio e longo prazo a ajudar as cidades a serem menos dependentes da energia hidrelétrica, sobretudo com as mudanças climáticas e as dificuldades que as nossas hidrelétricas passam durante longos períodos de estiagem”, pontua.
O CEO da Clarke Energia, Pedro Rio, lembra que todas as fontes de energia trazem impactos ambientais, mas que é possível encontrar formas de mitigar esses impactos, como a diminuição do consumo de energia e o uso de fontes chamadas limpas. Ele ressalta que é preciso fomentar projetos inteligentes de geração de energia e de menor impacto ao meio ambiente, que terão resultados a médio e longo prazo.
“Precisamos pensar em estruturas que sejam sustentáveis do ponto de vista financeiro e ambiental e essas políticas trazem resultados demorados. Algumas medidas paliativas de curto prazo devem ser pensadas, como a tarifa social, mas só as políticas de longo prazo podem resolver o problema e criar um ciclo positivo, virtuoso. E políticas como o IPTU Verde vêm como políticas de longo prazo que resolvem o problema”, reitera.
Fontes alternativas de energia
A matriz energética do Brasil é majoritariamente hidráulica. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) indicam que, apesar de ter capacidade instalada de 63,1% da energia produzida no país, devido à crise hídrica e energética enfrentada atualmente, apenas 45,6% da energia produzida vem das hidrelétricas. O potencial vem sendo suprido por outras alternativas, como as termelétricas (33%) e a energia eólica (14,8%).
A pesquisadora do Núcleo de Engenharia Ambiental da UFRJ, Giovanna Cavalcanti, destacou a necessidade do país ter uma segurança energética sólida para não sofrer com o desabastecimento ou com as variações muito significativas no preço da energia. A pesquisadora reforçou ainda que a nível do município, é possível pensar na produção alternativa de energia.
“A gente pode e deve tentar produzir energia na cidade, como, por exemplo, a energia de biomassa e a energia solar, com pontos distribuídos pela cidade. Quando a gente produz energia dentro do município, conseguimos reduzir a demanda das hidrelétricas ou das usinas térmicas, dependemos menos da energia que está armazenada e conferimos mais segurança para um momento de mais necessidade”, defende Giovanna.
A energia solar fotovoltaica, que consiste na utilização de placas para geração de energia por meio da luz do sol, tem se apresentado como uma das alternativas para a crise hídrica e a dependência das hidrelétricas. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), hoje a energia solar fotovoltaica representa 2% da matriz elétrica brasileira, mas até 2050 há uma expectativa de aumentar esse percentual para 32,2%. Hoje, o estado do Rio ocupa o sétimo lugar no ranking nacional dos estados produtores de energia solar.
“Temos a possibilidade, através do incentivo de energia solar, de produzir a própria energia aqui no Brasil, utilizando esta fonte de energia que é inesgotável e sem mais a necessidade de importar energia de outros países num valor muito caro”, afirma Camila Nascimento, representante da ABSOLAR.
Participaram ainda da audiência pública os vereadores Carlos Bolsonaro (Republicanos) e William Siri (PSOL), respectivamente vice-presidente e vogal da Comissão.