A inserção da mobilidade urbana compartilhada no Plano Diretor da cidade do Rio, que passará por atualização ainda em 2021, foi uma das propostas levantadas na audiência pública realizada nesta segunda-feira (28) pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara Municipal do Rio. Presidente do colegiado, o vereador Pedro Duarte (Novo) destacou a importância de ouvir representantes das diversas categorias envolvidas e dos apps que promovem esse tipo de serviço, como Uber e Tembici. “É importante inserir no Plano Diretor a mobilidade compartilhada, para que possamos avançar na segurança jurídica, na atração dos investimentos e na geração de empregos nos próximos dez anos”, ressaltou o parlamentar.
Para Mariana Cruz, representante da Tembici, mais conhecida na cidade como Bike Rio, o futuro da mobilidade é o compartilhamento de todos os ativos. Segundo ela, a empresa está em mais de dez cidades, e contabiliza mais de 50 milhões de viagens. Na cidade do Rio, são mais de 21 milhões de viagens feitas, com recorde de mais de 35 mil viagens em um único dia. A executiva falou também sobre os tempos que trouxeram uma nova realidade para as pessoas. “A pandemia nos obriga a repensar as formas de deslocamento, e isso coincide com as discussões do Plano Diretor”. Mariana Cruz revelou que a Tembici vem expandindo seu serviço, chegando à Zona Norte da cidade, e que há conversas com a Prefeitura para um avanço maior. “Os locais para a instalação das estações são escolhidos a partir da existência de uma infraestrutura no entorno, como polos de transporte”, explicou.
Flavio Marques Prol, representante da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que reúne empresas que prestam serviços tecnológicos relacionados à mobilidade de pessoas ou bens, como Ifood e Uber, falou sobre como as empresas da iniciativa privada podem ajudar o setor público na construção de políticas de mobilidade urbana. Segundo ele, dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que uma das associadas da Amobitec conseguiu, em 2020, acrescentar R$ 1,17 bilhão à economia da cidade do Rio de Janeiro, com a geração de 21 mil postos de trabalho indiretos e arrecadação de R$ 92 milhões em ICMS.
Ao ser questionado por Pedro Duarte, que lembrou a aprovação pelo parlamento carioca, no início do ano, da Lei nº 6.848/2021, que determinou que o município será o responsável pela implantação e pelo gerenciamento do Sistema de Bilhetagem Eletrônica, Flavio Marques Prol ainda declarou que vê com bons olhos qualquer movimento que leve à integração entre os vários sistemas modais. “A maior integração está em linha com o que defendemos”, apontou.
Mediação de disputas
Ao comentar uma fala do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), vice-presidente do colegiado, que lamentou a interferência do Estado em diversos setores, o secretário de Planejamento da cidade de Santo André, em São Paulo, José Police Neto, apontou que uma das principais questões é como o setor público regula as disputas para o bem coletivo. “As disputas continuarão e a concorrência não é ruim. O importante é saber como faço, a partir destas disputas, uma regulação eficiente, responsável e que de fato modernize as cidades”. Como instrumento legislativo, o secretário também destacou a importância do Plano Diretor que, segundo ele, precisa conter diretrizes e objetivos claros. “Ele precisa trazer a engenharia do planejamento da infraestrutura que precisa ser instalada”.
Para o presidente da Comissão, é preciso haver uma integração entre todos os modais, mas essa mudança passa, necessariamente, pela implementação da nova bilhetagem eletrônica. “A integração é um ponto importante, e não há como fazer isso sem a bilhetagem”, reforçou. Pedro Duarte ainda lembrou a situação dos aplicativos de transporte na cidade do Rio e sublinhou a importância de se ter uma boa regulamentação para que os agentes possam começar a debater políticas públicas adequadas. Já o vereador Carlos Bolsonaro agradeceu a prestação de serviço dos aplicativos de transporte durante a pandemia. “Vocês geraram milhares de empregos que garantiram o mínimo para o funcionamento dos setores”.
Participaram ainda da audiência pública os vereadores William Siri (PSOL) e Dr. Rogerio Amorim (PSL), a representante do aplicativo de transporte Quicko, Anna Beatriz Almeida, o representante do Startup Velo-city (car sharing), Daniel Bittencourt, o presidente da ABO2O, Vitor Magnani, o representante do Sindicato de Motoristas Particulares Autônomos do Rio de Janeiro, Luiz Carlos Corrêa de Albuquerque, e o presidente e fundador do Instituto Família Ponta a Ponta, Leandro Xavier.