A contribuição das artes cênicas para a cultura afro-brasileira foi o tema de uma reunião promovida pela Comissão Especial de Combate ao Racismo da Câmara do Rio na manhã desta segunda-feira (11) no Palácio Pedro Ernesto. Com a participação de artistas, pesquisadores e produtores culturais, foram levantadas questões como o enfrentamento ao preconceito racial na cultura e a contribuição das ciências no teatro, cinema e dança para a valorização do patrimônio afro cultural.
Presidente do colegiado, a vereadora Monica Cunha (PSOL) ressaltou a necessidade do cumprimento das normas existentes para combater o racismo. “A nossa luta é incansável, e temos que fazer pressão para que sejam colocadas em práticas políticas públicas voltadas para nós, população negra. Temos leis que se funcionassem, melhorariam muito as nossas vidas, porém a negatividade para que não funcionem acontece justamente por conta do racismo”, desabafou.
Para o cineasta Rodrigo de Odé, a produção artística negra é mais do que uma forma de entretenimento, é também uma ferramenta no combate aos crimes raciais. “As artes pretas têm um grande potencial de colocar a discussão do racismo em pauta, sendo capazes de ir além da formalidade escolar para combatê-lo”, apontou.
Ainda segundo Odé, é urgente a necessidade de maior investimento nessa forma de resistência com a criação de um sistema de fomento e de cotas permanentes para produções culturais pretas.
A juventude como foco
Já Wallace Lino faz parte da Entidade Maré e falou sobre a falta de programas duradouros que incentivem a juventude periférica a se engajar na cena artística. “É muito comum esses jovens terem acesso às dinâmicas culturais apenas por projetos sociais, que duram poucos anos e depois simplesmente terminam. Externamente, as experiências de acesso à cultura são voltadas para a população rica e branca”, criticou o jovem.
Sol Miranda concordou e destacou que existe uma opressão lançada nas manifestações artísticas. “A arte é uma das possibilidades em que nós, jovens negros, podemos nos ver enquanto potência. Por isso ela é o tempo inteiro atacada, pois dentre tantas coisas, ela possibilita entendermos o motivo de não podermos adentrar em determinados espaços, pela construção de um imaginário que o tempo inteiro tenta nos colocar como submissos”, declarou a artista e pesquisadora.
Uma comissão inédita na Câmara do Rio
A Comissão Especial de Combate ao Racismo da Câmara do Rio vem recebendo coletivos, artistas, acadêmicos e representantes da sociedade civil para uma série de reuniões temáticas a fim de fomentar um processo de escuta ativa dentro do parlamento carioca. E para a vereadora Monica Cunha, esta é uma enorme conquista.
“O que está acontecendo nessa Casa por conta dessa comissão é algo nunca visto antes. Esse trabalho é meu filho, é um ser que já está com a cabeça pronta, mas que ainda darei um corpo, para que fique projetado nesta Casa por toda a vida. A minha intenção é tornar esse colegiado permanente dentro da Câmara dos Vereadores. Os futuros parlamentares que chegarem aqui poderão dar continuidade a esse trabalho, com um escopo já estruturado”, adiantou a parlamentar.
Também participaram do encontro os vereadores Thais Ferreira (PSOL) e Edson Santos (PT), relatora e membro da Comissão.