A mortalidade materna e o racismo na assistência obstétrica foram tema de um debate público realizado nesta segunda-feira (30) na Câmara Municipal do Rio. Promovido pela vereadora Thais Ferreira (PSOL), o encontro contou com a participação de mulheres que militam e atuam na área da saúde e gravidez. Compuseram a mesa a advogada, doula e pesquisadora do IMS UERJ, Dra Janaína Gentili; a enfermeira obstétrica Marcele Zveiter; a pesquisadora da ONG Criola, Lia Manso; a representante da Associação de doulas do Rio de Janeiro, Keilla Moreira; e a Dra Thatiane Awo Yaa, médica e membra do coletivo Negrex.
“Esse assunto tem impactos multidimensionais que não podem ser desconsiderados. Nós vamos também abordar do racismo obstétrico, que é diretamente relacionado às mulheres negras, quilombolas, ribeirinhas, e às mulheres não brancas do nosso país” disse a vereadora Thais, ressaltando ainda como os dados públicos reafirmam em números o nível preocupante e evitável de mortes maternas.
A advogada Dra Janaína Gentili abriu os comentários da mesa falando sobre a história do movimento puerperal, explicando principalmente a diferença entre mortes maternas entre mulheres brancas e não brancas. Seguida pela fala da enfermeira Marcele, que trouxe para o debate sua experiência prática com as mulheres, além de dar sua opinião para políticas públicas como a cartilha municipal de gestantes.
Lia Manso ressaltou em sua participação algumas pautas levantadas pela ONG Criola, onde é pesquisadora. Ela comentou sobre um leque de direitos necessários de serem debatidos sobre círculos sociais mais específicos quando se fala em direitos maternos. Por outro lado, a representante das doulas na mesa, Keilla Moreira explicou um pouco mais sobre seu papel no abandono de mulheres negras gestantes. “É um espaço muitas vezes hostil, porque as doulas não são profissionais técnicos, e sim do cuidado. E isso gera uma confusão, muitas vezes quando a mulher chega para nós com alguma dúvida e nós vemos que aquele pré natal está sendo negligenciado que é uma prática comum, nós só podemos indicar que ela busque se informar melhor.”
Finalizando as falas da mesa de debate, a Dra Thatiane Awo falou sobre sua experiência em clínicas comunitárias de família com mães com diferentes histórias e contextos sociais. “Não podemos ver a gravidez e as consequências dessa gestação como uma foto, é um filme. Esse filme é toda a assistência pré natal que essa gestante negra não teve desde que descobriu que estava gestante”, exemplifica a médica.